História (ainda sem nome)


Capítulo 1

– Eles virão morar conosco – falou meu pai, esperando minha reação.
Eu não sabia o que dizer. Como meu pai faria isso comigo? Ele queria destruir minha vida? – Eu sei que você não gosta muito dele, mas, Clara, foi nossa melhor escolha… – continuou ele. “Nossa“. Eu odiava quando ele usava essa palavra. Novamente, fiquei sem reação. Acho que minha cara não estava muito boa, pelo jeito que ele me olhava. Eu olhei em seus olhos e meus olhos se encheram d’água. Fui correndo para meu quarto e desabei o choro em meu travesseiro. Meu pesadelo tinha começado. Ou melhor, tinha piorado. Porque começado, ele tinha já fazia um mês.
Eu estava em meu quarto, mexendo em um site da minha banda favorita, na internet. Meu pai abriu uma fresta da porta, colocou a cabeça pra dentro do meu quarto e disse:
– Clara? Quero que conheça uma pessoa. Ou melhor, duas.
Ele me pediu para ir até a sala; as tais pessoas estava me esperando lá.
Uma mulher alta, que devia ser um pouco mais nova que meu pai, e um menino que aparentava ter a minha idade estavam sentados no sofá.
– Essa é a Pâmela e esse o Bernardo – disse meu pai olhando para a mulher e em seguida para o menino. – Pâmela e eu estamos namorando faz uma semana e o Bernardo é filho dela. – explicou.
Ahn. Então essa era a tal mulher com quem meu pai estava saindo…
Pâmela me cumprimentou com um “prazer” e um beijo na bochecha. Ela tinha os cabelos castanhos presos em um tipo de coque, era um pouco mais baixa que meu pai e usava uma calça marrom e uma blusa um pouco larga. Seus olhos eram esverdeados; um verde bonito. O mesmo verde dos olhos do menino. Do Bernardo, eu quero dizer. Ele era bem parecido com a mãe, mas seu olhar era diferente. O de sua mãe era simpático e amigável, mas o seu não. Parecia que nos convidava a “mergulhar” naquele verde profundo e não dava vontade de voltar de lá. Foi então que percebi que eu estava realmente “mergulhada” em seu olhar.
Ele acenou com a cabeça e eu desviei o olhar de seus olhos imediatamente.
– Vou preparar um lanche – falou meu pai indo para a cozinha e me deixando sozinha com Pâmela e Bernardo na sala.
– Eu te ajudo, Fernando – falou Pâmela levantando-se do sofá e seguindo meu pai.
Papai alegou que não precisava, mas Pâmela insistiu tanto que ele cedeu.
Legal. Agora eu estava sozinha com o Bernardo e seus olhos profundos na sala e completamente sem assunto.
– Eu vou para o meu quarto. – eu disse e me levantei da poltrona em que estava sentada. Seria melhor ficar sozinha do que com um garoto de olhos profundos, sem assunto.
- Está bem. – falou ele.
No meu quarto, continuei no computador pesquisando coisas a respeito de minha banda favorita. Depois de uns cinco minutos, Bernardo entrou sem ao menos bater na porta. Ele olhou para a tela do computador onde eu estava lendo uma entrevista com a banda e perguntou com desaprovação:
– Você gosta desses caras?
Eu respondi que sim e ele me olhou com uma careta. Como ele achava que podia entrar em meu quarto sem minha permissão e ainda sentar em minha cama? Sim, ele havia sentado em minha cama sem nem ao menos perguntar se podia!
– Qual o problema? – perguntei.
– Eles são uns gays!
Ok. Quem ele pensava que era para 1°: entrar no meu quarto sem bater na porta; 2°: sentar em minha cama sem perguntar se pode; e 3°: criticar a minha banda preferida, chamando os membros de gays?!!
– Qual o seu problema, hein? – perguntei e me virei, encarando seus olhos verdes.

– Calma. É só minha opinião – respondeu, fazendo uma cara de coitado.
Revirei os olhos e voltei a mexer no computador. Seus olhos ficaram grudados na tela, observando todos os meus movimentos com o mouse. Ele já estava me irritando demais.
Para (tentar) me afastar um pouco dele, fui até a cozinha ver se o lanche já estava pronto. Quando cheguei em frente a porta, me deparei com uma cena não muito agradável: meu pai e a tal Pâmela rindo, passando o dedo com chantilly um no rosto do outro e se beijando. Se beijando. Depois da morte de minha mãe, eu nunca vi meu pai beijar outra mulher. Aquilo foi tão forte pra mim que quase comecei a chorar ali mesmo. Só me segurei por dois motivos: não queria que eles me vissem chorando, e muito menos que Bernardo me visse chorando. Fui até o banheiro jogar água em meu rosto na tentativa de aliviar meu mal-estar e a vontade de chorar.
–  O lanche está pronto – anunciou meu pai, me encontrando sentada no sofá da sala.
Bernardo saiu do meu quarto e foi para a sala. (ele ainda estava no meu quarto mesmo sem mim lá. Abusado...). Olhou para o lanche com desaprovação. Aquele menino não gostava de nada?
– Mãe, você sabe que odeio bolo com chantilly. – ouvi ele cochichar no ouvido de sua mãe.
– Mas o Fernando gosta, filho. – disse ela para o menino.

“O Fernando gosta“. Só porque meu pai gosta de chantilly Bernardo seria obrigado a comer? Nossa. Meu pai e ela estavam realmente apaixonados.
O pior é que eles estavam muito mais apaixonados do que eu pensava. Muito.






 Capítulo 2



Eu estava deitada na cama de Marina olhando para o teto cheio de estrelinhas que brilham no escuro. Ela estava na escrivaninha mexendo em seu laptop. Era uma segunda feira, nós tínhamos saído da natação e ido direto para lá.
– Marina – chamei-a
Ela parou de mexer no laptop e virou-se para mim – O meu pai... ele está namorando... – comecei – E a namorada dele tem um filho...
– Já sei! 
– ela me interrompeu  Ele é um gato, você se apaixonou por ele e...
– Não! Nada disso! Muito pelo contrário. Ele é um chato. Intrometido que eu nunca vi igual. Mas a questão não é essa. É que, não sei se você vai me entender, mas eu vi meu pai beijando uma miulher, Marina. Uma mulher que não era a minha mãe.
Meus olhos começaram a se encher de água, mas me segurei para não derramá-las e parecer fraca.

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